Depois de ler o monólogo de uma mulher moderna e reflectir sobre o exposto, tenho de discordar com algumas coisas. Eu não gostava de voltar ao tempo da minha avó! Passar o dia a bordar, a trocar receitas e com as amigas, isso não acontecia, pelo menos com a minha avó! O dia era mais: levantar às 04h da manhã, ordenhar as vacas, acordar os miúdos e irem todos para o campo para a apanha de qualquer coisa que estivesse pronta para ser apanhada, os momentos altos do dia eram a hora do almoço em que todos se sentavam e conversavam sobre o tempo e as vizinhas e à noite quando todos se sentavam em volta da lareira e comiam à luz de velas! Bela visão! Eu nasci no tempo certo! Como é que nós se tivéssemos a vida das nossas avós iríamos apreciar coisas como as telenovelas (não haviam, porque as mulheres não trabalhavam, se houvesse só com homens), a pílula (para quê?), passear (sair de casa? atão, se não sabemos ler, não tiramos a carta, sem isso não se conduz, íamos a pé? tínhamos ordem para sair?). A Internet, para quê? (eu nem sei ler, como vou usar um computador? modernices!) Haja panelas e comida e casa para esfregar e tanque para lavar a roupa, bordados e receitas (blheag).
Benditas rebeldes feministas que apareceram em boa hora e que deram às mulheres a oportunidade de também elas poderem aprender a ler, conduzir, muito importante: ter amigos homens sem que isso faça delas umas desvairadas, levianas. Porque no tempo das nossas avós (pelo menos a minha) os homens podiam, mas para as mulheres era “puribido” de “puribição”, até porque nunca se tinha muito tempo, tinha de se tratar da casa, do marido e dos filhos (geralmente à volta de cinco) ainda por cima não havia televisão e no fim o homem ainda saia à noite para ir à taberna beber um copo com os colegas e depois voltava e ai de que alguma coisa não estivesse como queria, catraz.
Eu não me contento apenas com a cozinha, a tábua de passar a ferro e o belo do avental! Gosto muito de trabalhar, de ter amigos, de ter ambições ao nível da realização pessoal (refiro-me ao sucesso profissional), de poder estudar em qualquer escola, tirar o curso que me apetecer, ter telemóvel e acima de tudo sentir que de alguma forma sou respeitada (embora em algumas situações o respeito não surja como o idealizamos), essas coisas todas que uma mulher gosta, claro que esta é a minha opinião, mas não a de todas as mulheres.
Bendita Marquesa de Condorcet, que lutou pela educação feminina;
Bendita Mary Wollstonecraft que escreveu sobre a reivindicação dos direitos da mulher, onde defendia uma educação para que aproveitassem o seu potencial humano;
Bendita Marie Curie que ganhou o Prémio Nobel da Físca pelas investigações sobre os fenómenos da radiação (olha se ela estivesse em casa a cuidar do marido, não utilizava toda a sua inteligência, talvez fizesse grandes cozinhados, nunca se sabe).
Atenção, não confundir as minhas palavras com feminismo excessivo porque não se trata disso, apenas estou a constatar factos de grande evolução!
Claro que nem tudo são rosas e maravilhas, existem desvantagens, e aí tenho de concordar com a escritora do monólogo, os homens afastam-se mais de nós, e os relacionamentos tornam-se, infelizmente, guerras de força! Afinal quem manda!? (guerra estúpida). Eles sentem admiração por mulheres independentes e inteligentes, mas não conseguem viver com elas (não generalizando) mas que há casos assim há! Depois há a merda das exigências da sociedade em que a mulher tem de ser uma linda borboleta e não um bichinho da seda. Se bem que antigamente a mulher tinha de andar lavadinha e perfumada para quando o marido chegasse a casa olhasse para ela (mesmo que não tomasse banho não fazia mal) e tivessem um serão à volta da lareira em harmonia, até ele ir para a taberna.
Mas como isto de mulher moderna e independente é muito recente e como em todas as coisas, há que alinhavar umas quantas questões para deixarmos de ser as super-mulheres em que nos tornámos (vida domestica vs vida profissional).
Já conseguimos muitas coisas! Agora, na maioria das vezes, já não nos dão ordens, pedem, dizem coisas como: por favor e obrigado substituindo-as por JÁ e DEMORA MUITO!
Em suma: tudo isto para dizer que não tenho mesmo feitio para ser apenas uma mulher que trata da casa, dos filhos e do marido. E com isto não me sinto minimamente idiota!
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