quinta-feira, dezembro 14, 2006

Linha ténue

A VIDA é um vidro muito frágil.... demasiado para ser usado como cobaia.
Este post é escrito com laivos de dor, tristeza e desilusão.
Tenho um avô (o único que me resta) internado num hospital bem conhecido da praça por todos os problemas que o envolvem. Esse avô, jogava à bola, saltava muros, andava de bicicleta e fazia ginástica. Teve um AVC há três semanas. Subitamente, deixou de fazer tudo o que foi referido. Mas manteve a calma, a serenidade e o porte atlético. Ficou disártrico e deixou de mexer a mão direita mas, nem por isso, deixou de levantar a esquerda para protestar ou simplesmente para dizer adeus. Trocou os "guês" por "jês" mas com humor. Acreditou que tinha sido apenas um obstáculo na corrida da vida. Acreditou que estavam lá profissionais à altura de o ajudar. Ficou radiante quando chegou uma fisioterapeuta e desatou a ensina-lo a recomeçar. E ele foi recomeçando, devagarinho mas com fé de que o amanhã iria ser melhor e mais eficaz. De repente, sem que nada o fizesse prever, este avô adormeceu e não acordava... vieram os profissionais e disseram "talvez novo avc". Não se confirmou mas algo se alterou. A ordem dada por um desses profissionais não foi cumprida e o mesmo avô não "levou" com um tubo do nariz ao estomâgo para comer. Na manhã seguinte, após uma conversa com mais um profissional que afirmou tudo estar normal a não ser uma pequena infecção urinária, uma enfermeira profissional foi dar o pequeno almoço ao avô. Afogou-lhe os pulmões em papa. Parou de respirar. Ligou-se um ventildaor, aspiraram-se as secrecções e puseram o avô em modo "stand by".
Mesmo depois de eu saber o que tinha acontecido, uma outra profissional, sem saber que eu sabia, diz-me que esse avô ( que outrora fora atlético) tinha tido um súbito problema respiratório que o atirara para uma UCI. Mesmo depois de verem a minha dor, pedem-me que não acabe com a carreira de alguém que ainda agora começou. Mesmo depois de o verem sofrer apelam ao meu sentido de justiça.
Como? como é que se consegue ser justo depois de ver quem amamos sofrer por negligência? Como é que se atira isto para trás das costas mesmo sabendo que o NOSSO AVÔ está ainda dependente de uma máquina para viver?
Não encontro resposta.
Qual é o sentido de responsabilidade que estas pessoas envolvidas no processo têm?
Que me desculpem todos os bons profissionais (inclusive aqueles que conheço) mas não consigo arranjar outro nome senão "assassinos" para quem comete este tipo de atrocidades.
Errar é humano... mas errar contra a própria vida? É o quê? Desumano?